(*) Por Anderson Pereira
Toda revolução começa com uma pergunta incômoda. A nossa é simples: por que a farmácia ainda “pede adiantado” o que já é dela?
Vamos falar de um dos rituais mais antigos e custosos do comércio: a espera. Você conhece essa rotina: vende, emite a nota e, por fim, espera. Espera como se espera um ônibus em um dia chuvoso. Enquanto isso, as contas não esperam. Os fornecedores não esperam. O crescimento não pode esperar.
Esse vácuo entre o vender e o receber é um território chamado “antecipação”. Um lugar onde você paga juros pelo privilégio de acessar o que já é seu por direito. É como pagar pedágio para entrar na sua própria casa. Durante décadas, aceitamos isso como um mal necessário, um custo inerente ao negócio. Mas por quê?
Agora, imagine: em vez de pagar juros para ter acesso ao próprio dinheiro, por que não usá-lo como moeda de pagamento?
Parece filosofia, mas é engenharia de processo. O Banco Central do Brasil construiu uma infraestrutura única de registradoras de recebíveis. Todos os recebíveis no Brasil são, ou serão, registrados em plataformas que atestam sua veracidade. Isso significa que as vendas já existem: são audíveis, rastreáveis e confiáveis. Apenas não caíram no seu caixa ainda, mas irão. Por que, então, transformá-las em dívida, se podemos transformá-las em crédito? Imagine um mundo em que você pudesse usar as vendas que vão cair no mês seguinte para comprar estoque hoje, sem taxas ou custos.
É possível provocar uma transformação no mercado. O varejo pode usar os recebíveis de suas vendas em cartão como forma de pagamento para comprar estoques e insumos. É como se o contas a receber fosse usado para quitar o contas a pagar da sua loja. Não é fintech vendendo milagres, é uma operação que converte custo financeiro em poder de compra.
Nesta modalidade você não está solicitando um empréstimo, mas sim realizando um pagamento com recebíveis. Portanto, não há juros ou taxas escondidas. O varejista está usando o valor que já vendeu, mas que ainda não está no caixa, para quitar suas compras com fornecedores, investir em marketing ou modernizar sua loja. É um movimento de xadrez, não de paciência. É inteligência financeira em ação.
Como assim, "pagar com recebíveis"?
A magia operacional é tão elegante quanto a ideia filosófica. De forma integrada e simples, em vez de drenar o capital de giro ou aumentar o endividamento, você usa os recebíveis que vão ser liquidados no futuro e os oferece como forma de pagamento direto aos fornecedores. Vendeu R$ 100 no cartão? Agora você pode usar esse mesmo valor para comprar estoque hoje, sem custo.

