FintechLab
FintechLab

Comece a digitar para buscar

RegTechBankingPagamentos

O CVC e a Revolução Financeira Brasileira: Lições sobre a Colaboração Regulatória

A dinâmica de investimentos em fintechs na América Latina está em um ponto de inflexão, passando de uma fase de crescimento explosivo para outra de maturidade estratégica. Para o Corporate Venture Capital (CVC), essa mudança de maré reforça o mandato das corporações de serem agentes ativos e informados sobre a inovação, em vez de meros observadores.

Thiago Iglesias

Thiago Iglesias

LinkedIn
5 de novembro, 2025
Compartilhar:
O CVC e a Revolução Financeira Brasileira: Lições sobre a Colaboração Regulatória

O recém-lançado estudo LatAm Fintech Report 2025, produzido pela Sling Hub em parceria com o Torq, demonstra que os investimentos em fintechs na região estão migrando de um cenário de crescimento impetuoso para uma nova fase de estabilidade estratégica. Apesar do aumento no volume total de capital, o número de rodadas diminuiu, o que pode indicar que os investidores agora priorizam a eficiência e a solidez dos modelos de negócio.

O Brasil emerge neste cenário com um perfil de investimento particularmente robusto e avançado em comparação com o restante da América Latina. Uma das distinções mais notáveis é a liderança do capital corporativo e financeiro doméstico. Grandes instituições brasileiras dominaram a lista dos investidores mais ativos em fintechs, como o Itaú (8 investimentos) e a B3/L4 (7 investimentos). Essa concentração de aportes em players locais demonstra a confiança das corporações estabelecidas no potencial de transformação do mercado nacional e no uso estratégico do CVC como veículo para integrar inovações ao core business.

Além disso, observou-se uma sofisticação na estruturação das operações: enquanto o restante da LatAm (ex-Brasil) se concentrou em rodadas de equity, as maiores transações no Brasil se voltaram para a dívida estruturada (como FIDCs), com destaque para CloudWalk e Asaas. Essa diversificação demonstra um ecossistema mais maduro, capaz de mobilizar diferentes instrumentos de capital alinhados às necessidades de expansão e de menos diluição acionária das fintechs em estágio avançado.

No entanto, o verdadeiro diferencial competitivo do CVC no Brasil reside em sua interconexão com a agenda de inovação regulatória do Banco Central do Brasil (Bacen). Longe de ser um obstáculo, o Bacen atuou como um catalisador progressista, criando as condições estruturais para a disrupção. O PIX é o exemplo mais eloquente, celebrando recentemente cinco anos e transformando-se na infraestrutura de pagamentos mais utilizada no país, com mais de 161 milhões de usuários e 4 bilhões de transações mensais em períodos recentes. Para as corporações, essa ferramenta não é apenas um meio de pagamento, mas também um trilho digital universal que garante liquidez instantânea e valida modelos de negócio escaláveis

Outro exemplo é o Open Finance, que cria o imperativo de transparência e de competição baseada na criação de valor, liberando o poder dos dados financeiros e já contando com mais de 60 milhões de consentimentos. Essa iniciativa pode impulsionar CVCs a investirem, por exemplo, em fintechs que utilizam o acesso a dados abertos para criar ofertas de crédito e serviços personalizados de forma segura. Olhando para o futuro, o Bacen já lidera o desenvolvimento do Drex (Real Digital) e a tokenização de ativos. O Drex é visto como uma plataforma que permitirá a programabilidade do dinheiro e a liquidação instantânea de ativos complexos, como garantias e títulos. Investir em startups que constroem sobre essa infraestrutura é o próximo passo para um CVC com conexão à indústria financeira e que busca retorno estratégico e antecipação regulatória.

O sucesso do Corporate Venture no setor financeiro brasileiro não é um acaso; é o resultado de uma sinergia única entre capital robusto, mentalidade de inovação aberta e um arcabouço regulatório que estimula a competição de forma segura. O imperativo para os players de CVC, independentemente do mercado de atuação, é reconhecer que a colaboração regulatória — por meio da participação em associações como a ABCVC e do diálogo ativo nos fóruns de agentes reguladores ou de influência em suas indústrias — é essencial. Ao trabalhar lado a lado com instituições que estão ativamente transformando suas indústrias, sejam entidades reguladoras ou associações, as corporações garantem que seus investimentos não apenas sigam as regras vigentes, mas também contribuam para definir os padrões de mercado de amanhã, solidificando o Brasil como um laboratório global de tecnologia.