FintechLab
FintechLab

Comece a digitar para buscar

InvestimentosCrédito

FIDCs esbarram no aumento das recuperações judiciais e exigem investimento em tecnologia

Estudo alerta para riscos que podem afetar crescimento do setor a partir de 2026

R

Redação

18 de dezembro, 2025
Compartilhar:
FIDCs esbarram no aumento das recuperações judiciais e exigem investimento em tecnologia

Resumo

Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) no Brasil estão diante de desafios que podem comprometer seu crescimento. Pesquisas indicam uma necessidade urgente de modernização e automação para garantir a competitividade.

Além disso, o aumento das recuperações judiciais acende um alerta sobre a segurança dos investidores no setor.

Importante saber:

  • 44% dos profissionais citam insegurança com recuperações judiciais.

  • Investimento em tecnologia é visto como essencial, mas enfrenta resistência.

  • Regulamentação recente melhora a segurança jurídica e acesso a investidores.

Apesar de ter registrado um boom de investimentos no Brasil nos últimos aos, o mercado de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) terá que enfrentar desafios consideráveis para manter este ritmo de crescimento a partir de 2026. Segundo o estudo "Percepções e Perspectivas do Mercado de FIDCs", desenvolvido pela infratech Celcoin, fatores como a necessidade de atualização tecnológica, integração de sistemas e automação de processos, somados ao crescimento do volume de recuperações judiciais acenderam um alerta sobre o desenvolvimento deste setor nos próximos anos.

A pesquisa, realizada por meio de entrevistas de profundidade com profissionais de instituições financeiras renomadas, destaca que 44% dos entrevistados expressaram apreensão com o aumento das recuperações judiciais. Eles destacam que a facilidade de acesso ao processo de Recuperação Judicial (RJ) e a elevada taxa de aceitação judicial geram insegurança entre investidores e gestores, que veem na RJ não apenas um sinal de inadimplência iminente, mas também um risco estrutural que compromete a previsibilidade e a rentabilidade das operações.

Rodrigo Claudino, Diretor de Operações de Crédito da Celcoin, afirma que além disso, do ponto de vista operacional, a gestão de FIDCs com múltiplos cedentes e sacados também é complexa, com excesso de processos manuais e baixa automação. A verificação de lastro, por exemplo, ainda depende de conhecimento técnico individual e sofre com a falta de padronização, limitando a escalabilidade e aumentando a vulnerabilidade a erros humanos, e dificultando a adição de ferramentas tecnológicas.

Não por acaso, segundo ele, o interesse para investimento em tecnologia foi destacado como alto, sendo classificado com prioridade 7, numa escala de 0 a 10, por 44% dos entrevistados.

“Apesar do investimento em tecnologia ser visto como essencial para a melhoria operacional e a competitividade dos fundos, há uma resistência do mercado, considerando o alto custo para testar e validar novas ferramentas. Com o cenário macroeconômico incerto, qualquer investimento em tecnologia será pautado por considerações relacionadas a volume de recurso investido, garantia de resultados e tempo de retorno, que não podem ser garantidos durante o desenvolvimento de uma nova ferramenta”, destaca o estudo.

Inteligência Artificial, Integração via API, Análise de dados e Dashboards, sistemas de gestão de FIDCs e KYC estão entre as tecnologias mais mencionadas para investimento, que além de uma barreira de custos, enfrenta uma barreira conceitual, já que as ferramentas operacionais construídas até então carecem de precisão e agilidade para o segmento, sendo percebidas pelas gestões como pouco eficazes na tomada de decisão.

Apesar do reconhecimento de que a maturidade tecnológica ainda é baixa, a pesquisa aponta para uma oportunidade de desenvolvimento de sistemas focados especificamente nos FIDCs, priorizando a assertividade da informação em vez de ferramentas genéricas.

A evolução regulatória, em particular a Resolução CVM 175, foi fundamental para o impulsionamento dos FIDCs no mercado. A nova regulamentação é vista como um marco que trouxe maior padronização e segurança jurídica, facilitando inclusive o acesso do investidor pessoa física ao produto, sendo destacada por cerca de 77% dos entrevistados.

Os FIDCs ainda têm um grande potencial de crescimento, comparado a mercados mais desenvolvidos. De acordo com o estudo, em ecossistemas mais desenvolvidos, produtos equivalentes representam cerca de 30% do mercado de crédito, contra 8% a 10% no Brasil. Além disso, 55% dos entrevistados percebem que grandes bancos têm dificuldade em atender empresas com profundidade, abrindo uma lacuna que os FIDCs exploram com sucesso.

Este cenário, impulsionado pela desconcentração bancária e o avanço do mercado de capitais, consolida o FIDC como uma tendência no crédito privado. Contudo, o setor enfrenta desafios significativos que exigem um investimento estratégico em tecnologia para garantir competitividade e eficiência.

“Apesar do otimismo, o mercado de crédito brasileiro ainda navega por um cenário macroeconômico instável, com a taxa Selic elevada, inflação, instabilidade política e o endividamento crescente das famílias. Há demanda consistente por crédito, mas a alta dos juros tem levado investidores a preferirem aplicações conservadoras, enquanto consumidores de menor renda estariam mais dependentes do crédito”, conclui.