O novo estudo da ABStartups revela uma mudança significativa no ranking dos maiores volumes de empresas com as fintechs saindo do Top 3.
A ascensão de edtechs e healthtechs indica uma nova era de serviços financeiros nas startups.
Importante saber:
Fintechs agora ocupam 4ª posição no mapeamento.
82,2% das startups operam em modelos B2B ou B2B2C.
56,1% das startups abriram novas vagas no último ano.
A oitava edição do Mapeamento do Ecossistema Brasileiro de Startups, divulgada ontem (27) pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups), revelou pela primeira vez a saída das fintechs do Top 3 entre as principais verticais do país. Segundo a entidade, o movimento pode ser resultado da “fintechzação” de startups de outras áreas, especialmente educação e saúde. O estudo analisou 3.650 startups distribuídas em 424 cidades.
Entre os segmentos avaliados, as edtechs mantiveram a liderança, com 10,1% do total, seguidas por healthtechs e life sciences (9,4%) e pelas empresas de software (8,8%). As fintechs aparecem logo depois, com 8,7%.
Em entrevista ao FintechLab, o presidente da ABStartups, Lindomar Goes, explicou que o crescimento de edtechs e healthtechs vem acompanhado da incorporação de serviços financeiros — o que antes era característico das fintechs.
“Uma startup de educação precisa receber mensalidades, fazer gestão financeira de matrículas ou da venda de livros. Da mesma forma, uma startup de saúde cria um braço financeiro para processar pagamentos de consultas, exames e repasses médicos”, afirmou.
Goes também destacou a expansão regional do ecossistema, com crescimento relevante no Nordeste e avanço no Norte. Embora a concentração permaneça no Sudeste, a interiorização tem ampliado a presença de startups — inclusive fintechs — fora dos grandes polos. “Naturalmente, crescendo o número de projetos nas regiões de menor densidade, cresce também o número de fintechs nesses locais”, disse.
O relatório aponta ainda um amadurecimento do setor: 82,2% das startups atuam em modelos B2B ou B2B2C, e 53,1% já estão em operação ou tração. O modelo SaaS segue predominante, presente em 39,2% dos negócios. O faturamento médio anual registrado é de R$ 736 mil.
Para a CEO da ABStartups, Cláudia Schulz, a leitura regional dos dados é essencial para compreender a evolução do ecossistema. “O crescimento da participação do Nordeste e do Norte mostra que a presença do setor está se expandindo de forma consistente. Redes locais de empreendedores e investidores continuam fundamentais nesse processo”, afirmou.
Apesar da desconcentração gradual, o Sudeste ainda reúne 60,2% das startups brasileiras. O Nordeste chegou a 10,5% e o Norte subiu para 5,4%. Entre os estados, São Paulo segue isolado na liderança, abrigando 45% das startups mapeadas.
O setor também manteve desempenho positivo na geração de empregos: 56,1% das startups abriram vagas no último ano, com média de cinco contratações. Os desligamentos se mantiveram em níveis considerados saudáveis, com 84,8% das empresas registrando de um a cinco saídas, motivadas principalmente por incompatibilidade cultural ou de valores (44,7%).
A diversidade apresenta avanços graduais. Entre os fundadores, 24,3% são pessoas pretas e pardas, e 19,9% são mulheres. Nos times, 76,7% das startups contam com profissionais pretos ou pardos, 84,6% com mulheres e 38% com pessoas LGBTQIAPN+.
“Diversidade não é apenas pauta social, é estratégica. Startups diversas tomam melhores decisões e criam produtos mais completos. Ver esse avanço, ainda que lento, indica que estamos no caminho certo”, avaliou Schulz.
No campo de investimentos, 34,8% das startups receberam aportes, com média de R$ 1 milhão. Investidores-anjo seguem como principal fonte (36,8%), seguidos por aceleradoras (14,1%). Um dado que chama atenção nesta edição é que 68,5% dos investimentos vieram de redes locais — um indicativo do fortalecimento dos ecossistemas regionais.