(*) Alexander Fürst
O sistema financeiro brasileiro se aproxima de 2026 diante de uma mudança estrutural na forma como supervisiona os riscos, integra os dados e conduz o processo de prevenção à lavagem de dinheiro (PLDFT). Após anos de evolução regulatória, a pressão por eficiência operacional e aumento exponencial das transações digitais, o país entra em uma fase marcada pela busca por maturidade, padronização e interoperabilidade.
O movimento não se limita à adoção de novas tecnologias. Ele envolve a consolidação de processos, a reorganização de fluxos, o fortalecimento de critérios técnicos e a implementação de sistemas capazes de sustentar a complexidade informacional que permeia os bancos, as fintechs, as instituições de pagamento e participantes do mercado de capitais.
Dados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), mostram que o número de comunicações de operações suspeitas ultrapassou 7,5 milhões em 2024, enquanto os Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) cresceram mais de 330%, desde 2015. O volume crescente revela uma maior sensibilidade para riscos, mas também pressiona áreas de compliance e PLDFT que ainda enfrentam limitações estruturais, como bases fragmentadas, dependência de processos manuais e dificuldade de integração sistêmica.
O avanço depende menos da ampliação de vigilância e mais da capacidade de transformar dados em inteligência. O desafio não é apenas captar dados, mas assegurar sua qualidade e transformá-los em inteligência útil e tempestiva. Sem isso, não há maturidade operacional possível.
A maturidade exigida para 2026 está apoiada em três pilares centrais. O primeiro é a interoperabilidade, ainda limitada por bases públicas e privadas que não conversam entre si. Ambientes como SIMBA, INFOJUD e CCS seguem operando de forma desconectada, dificultando cruzamentos automáticos e atrasando análises complexas.
O segundo pilar é a governança técnica de dados. Instituições precisam dominar não apenas a ingestão de grandes volumes de informação, mas também a sua classificação, qualificação, o enriquecimento, a padronização e a rastreabilidade. Sem isso, os falsos positivos se acumulam, os gargalos se intensificam e as decisões críticas perdem qualidade.

