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Apps de apostas e de concorrentes no celular orientam políticas de crédito

Instituições financeiras utilizam dados sobre o uso de smartphones para prever inadimplência e reduzir churn

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Redação

12 de novembro, 2025
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Apps de apostas e de concorrentes no celular orientam políticas de crédito

Resumo

A coleta de dados de comportamento digital é a nova fronteira para instituições financeiras.

A Mintech e outros especialistas discutem como esses dados podem melhorar a oferta de crédito.

Importante saber:

  • Uso autorizado de dados digitais para decisões de crédito

  • Impacto da concorrência no churn de clientes

  • Transparência e consentimento no processo de coleta

“Ninguém baixa o aplicativo de um banco ou de uma bet no celular apenas para admirar as cores. Se a pessoa baixou, ela vai usar, e essa é uma informação fundamental.” A frase do CEO da Mintech, Gustavo Cruz, resume a nova tendência que começa a se consolidar entre fintechs e instituições financeiras brasileiras: o uso autorizado de dados de comportamento digital para orientar decisões de crédito.

O tema foi debatido no painel “Como a IA impulsiona a adoção de soluções baseadas em dados alternativos”, realizado na arena Finanças do AI Brasil Experience, evento que reuniu especialistas e empresas de tecnologia nos dias 30 e 31 de outubro, no Distrito Anhembi, em São Paulo. Cruz mediou a discussão, que também contou com a participação de Rafael Cherubini, head de Plataformas do PagBank, e Bruno Franco, superintendente de Crédito e Modelagem do Banco BMG.

A Mintech é uma startup especializada em coletar, tratar e combinar variáveis extraídas diretamente dos smartphones de clientes que acessam aplicativos de empresas parceiras. A análise desses dados permite às instituições identificar padrões de comportamento e antecipar tendências, como a propensão ao cancelamento de serviços (churn) ou ao aumento da inadimplência.

Cherubini apresentou um exemplo prático: entre os clientes do PagBank, o churn é, em média, 3,9 vezes maior quando o usuário possui mais de um aplicativo de instituições concorrentes instalado no celular. “Saber que o cliente baixou um app concorrente é uma informação extremamente valiosa, porque nos permite tomar ações preventivas antes de perder o cliente”, explicou. “Procuramos entender o que motivou o download — se é insatisfação ou busca por outro produto — e agir para mantê-lo.”

Já Bruno Franco, do Banco BMG, destacou o impacto do uso desses dados na concessão de crédito consignado. Segundo ele, cerca de 75% dos clientes desse produto têm histórico de negativação, o que reduz as margens de lucro e torna a análise alternativa de dados ainda mais relevante.

“O levantamento mostra que 31% da carteira possui aplicativos de concorrentes no celular. Entre os que não têm, a inadimplência média é de 15,9%. Mas, entre os clientes com alta penetração de apps concorrentes (mais de dois), esse índice sobe para 35,6%, mais que o dobro”, afirmou Franco.

Ele também apontou a correlação entre o uso de aplicativos de apostas esportivas (bets) e o risco de crédito. “Se uma pessoa que não tem salário fixo e vive apenas de benefício social baixa três ou quatro apps de bets, ela não pode ter a mesma política de crédito que outros clientes”, observou.

Segundo Gustavo Cruz, o processo é totalmente transparente e feito com o consentimento do consumidor. “O telefone celular é hoje o maior laboratório do comportamento humano”, afirmou. “Enquanto uma pesquisa tradicional atinge apenas uma pequena amostra de clientes, a coleta de dados via smartphone permite conhecer o comportamento de 100% da base, em tempo real. Isso ajuda as empresas a estruturar produtos melhores e mais adequados ao perfil de cada cliente.”